sexta-feira, 5 de abril de 2013

O Olho no Cinema.

Em uma noite insone, me vêm à mente (ou à retina) algumas cenas de cinema em que o olho aparece de forma impactante. Entre muitas outras referências ao globo ocular humano-olhos de animais também surgem em inúmeras produções cinematográficas de variadas épocas-porém, preferi delimitar o assunto, comentando brevemente três cenas clássicas relacionadas ao tema: O cine-olho de Vertov, o olho e a Navalha de Buñuel/Dalí e o olho e a bomba de Kurosawa. Não sei se perceberam, mas a logo que pensei para o Cine Navegantes possui um olho dentro da bandeira do Brasil, minha intenção foi fazer uma homenagem ao conceito de Kino-Glaz (Cine-Olho) de Vertov, agregando um símbolo cinematográfico soviético ao cinema nacional, daí a sobreposição do olho na bandeira brasileira, como Dziga Vertov havia feito com o olho e a lente da câmera... Retornando aos olhos no cinema, vamos iniciar por Dziga Vertov e a Câmera Olho: Nascido Denis Arkadievitch Kaufman (em 2 de janeiro de 1896), o pseudônimo Dziga faz referência ao barulhinho do giro da manivela de uma câmera daqueles tempos, e Vertov é derivado do verbo “girar”, “rodar”. Vertov foi reconhecido por ter sido o pioneiro do Kinopravda, ou seja, o cinema-verdade, nos tempos áureos iniciais da União Soviética, quando as manifestações artísticas em geral ainda possuíam total liberdade criativa. Dziga Vertov, sem dúvida revolucionou (e foi um dos precursores) do cinema documentário como gênero e linguagem. Realizou em 1929 o doc. “O Homem da Câmera” ou “Um Homem com uma Câmera”.
 Já o segundo olho (sendo retalhado), talvez seja uma das imagens (minha opinião) mais chocantes e antológicas da Sétima Arte, se trata de uma das cenas iniciais do curta metragem “O Cão Andaluz” (1928). Obra seminal do surrealismo no cinema, realizado conjuntamente entre Luis Buñuel e Salvador Dalí, o filme de 16min. e P&B (o preto e branco enriquece ainda mais a película) mostra, em uma narrativa descontínua, mas surpreendente, uma reunião incrível de cenas oníricas, por vezes nos remetendo a um pesadelo com críticas contundentes às sociedades em geral.

  E para finalizar, o penúltimo filme do mestre Akira Kurosawa (já praticamente cego e contando com o auxílio de fãs como Spielberg e George Lucas para bancar sua obra) “Rapsódia em Agosto” (1991) retrata mais uma vez a presença do olho humano no cinema de maneira surpreendente: ao explodir a bomba atômica, um gigantesco olho aparece, e pisca, sobreposto ao cogumelo nuclear. Bem, depois destas considerações feitas, espero não ter mais insônia, pelo menos no que tange aos incríveis olhos do cinema. (Cássio Marcelo de Oliveira Alves).

3 comentários:

  1. Lendo o texto me pipoca na cabeça referencias não só do "olho"no cinema, provavelmente porque não domino o assunto, mas me veio o lembrança do "Grande Irmão" que tudo vê! As janelas da alma, como relacionam alguns e a referência que mais gosto é a de Rubem Alves, quando ele fala da maneira de olhar, que melhor seria que fosse sempre com espanto. Olhar como se fosse a primeira vez. Olhar curioso...
    Adorei seu texto, Cássio! Beijo

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  2. Sobre a referência do Rubem Alves não sei (vou pesquisar), mas do "Grande Irmão" do livro 1984, sim.
    Obrigado pelo comentário.
    Beijo.

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