sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O Banco Clandestino de Ossos e a Antropofagia no Cinema (três filmes).

Recentemente, a polícia do Paraná atuando através do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa), fechou um banco de ossos que atuava de maneira clandestina na cidade de Londrina-PR, e pelas investigações, a macabra apreensão era utilizada em enxertos odontológicos e ortopédicos. E o que isso tem haver com a sétima arte? Tal pergunta me pipocou à cabeça quando associei a notícia acima a três obras fílmicas que, de uma maneira ou outra, tratam do ser humano comendo, deglutindo, devorando, saboreando, outro da sua espécie, ou seja, rituais de canibalismo. Daí lembrei da célebre fala de Zé do Caixão no longa (se não me engano) “A Meia Noite Levarei Sua Alma” de 1964 em que o personagem brada: “Hoje eu como carne nem que seja de gente”, de tão indignado que estava com a proibição de se comer carne na sexta-feira santa, ele profere, tomado por fúria, esta herética e blasfêmica máxima.
Outra obra que me veio à mente foi “Os Sobreviventes dos Andes” (Dir. René Cardona Jr) de 1976, filme baseado no livro do sobrevivente Fernando Parrado que narra a história de um fato verídico ocorrido na Cordilheira dos Andes em outubro de 1972, quando o avião que transportava a equipe de rúgbi uruguaia, rumando de Montevidéu para Santiago, e devido ao mau tempo se choca contra uma montanha, ficando meses perdido no meio do imenso deserto de gelo andino, enfrentando temperaturas muito abaixo de zero. Resultado: acabando o que restava de comida da aeronave e as tiras de couro de peças das bagagens que serviam de alimento, os sobreviventes se viram obrigados a fatiar ''filés'' dos colegas e “fritá-los'' ao gelo e sol para sobreviverem à absoluta escassez de comida, e parte sobreviveu durante longos 72 dias até serem resgatados, relatando, posteriormente, todos os fatos ocorridos a incrédulos espectadores de todo mundo, obrigando a surgir uma ampla discussão sobre os tabus humanos.
Para finalizar, fazendo uma ode ao tema, não poderia de deixar de citar o apaixonante cinema do mestre Nelson Pereira dos Santos com o delicioso título da película de 1971 “Como Era Gostoso o Meu Francês”, inspirado no relato de Hans Staden, o filme conta a saga de um aventureiro francês que acaba ficando em território Tupinambá após um embate entre portugueses e franceses em 1594 , sendo confundido com um português (inimigos dos Tupinambás-que por sinal eram aliados dos franceses), acaba sendo devorado em um ritual antropofágico.
Cássio Marcelo de O.Alves